domingo, 25 de maio de 2014

A COPA É DE QUÉM??????

A copa de todos e de ninguém

Paulo Renato de Menesespolitica@opovo.com.br
FOTO: EDIMAR SOARES
A pedagoga Helen Serpa e o sociólogo Caio Feitosa: à pergunta "Copa para quem?", cada um deles tem uma resposta diferente

Entre “não vai ter Copa” e “vai ter, sim”, muita bola ainda vai rolar antes do apito inicial do torneio da Fifa. Sediar pela segunda vez o Mundial tem feito o brasileiro se contorcer em dilemas: torcer pela Seleção e não protestar? Não torcer e não protestar? Torcer e protestar? Nunca antes na história deste País futebol e política estiveram tão próximos - ora em lados, ora do mesmo lado. O Brasil se divide em estádios de verde e amarelo e ruas de insatisfação.

 “Vai ter Copa, vai ter manifestação, vai ter turista - o que não vai ter é educação e segurança, mas isso a gente já esperava”, esbraveja Julia Ionele no Facebook. Assim como a estudante universitária, cada vez mais pessoas têm recorrido às redes sociais para se posicionar sobre o Mundial. Da Internet para as ruas, os questionamentos se espalham: a Copa já era? Vamos ser hexa? Copa pra quem?
Copa de todos
A pedagoga Helen Serpa está confiante. “O Brasil vai ser hexa, a Copa vai ser um sucesso e os estrangeiros, mesmo perdendo, vão sair daqui felizes”, garante. De Fuleco na mão, Helen planeja assistir aos seis jogos realizados na Arena Castelão. Em seu apartamento, a cearense receberá amigos brasileiros e estrangeiros.

Defendendo que a Copa é momento de torcer, Helen está entre os 24% de moradores de Fortaleza que se dizem “muito interessados” no evento. O número, divulgado na última quinta-feira, é um dado da pesquisa realizada pela empresa Ipsos Media CT. “Nós somos um povo bonito, lutador, sabemos o que queremos. Então, precisamos parar com esse complexo de vira-lata. Nós somos um povo poderoso”, argumenta.
Apesar da empolgação com o futebol, a pedagoga afirma que o “maior legado” da Copa é “o pensar sobre a própria realidade” que o evento provocou no País. “Acho que o brasileiro está insatisfeito com o atual momento político e socioeconômico e, assim, quer antecipar o dia 3 de outubro para o dia 12 de junho. Isso não pode acontecer. Futebol é um esporte popular que une povos”, defende.
Copa de ninguém
O sociólogo Caio Feitosa está determinado. “Ir para a rua durante a Copa do Mundo é recuperar a necessidade de jogar para a opinião pública problemas que são anteriores à Copa”, contra-ataca. Caio é membro do Centro de Defesa da Vida Herbert de Souza e integra o Comitê Popular da Copa. Essas questões, explica, dizem respeito aos problemas de moradia, violência e muitas outras “urgências humanas e sociais que nunca assumiram prioridade na agenda das políticas públicas”.

“Nós vemos um evento privado ganhar centralidade na agenda dos investimentos e de planejamento dos governos. Isso causa um sentimento de indignação profunda”, reclama.
Morador do Bom Jardim, Caio diz ser preciso “dimensionar o investimento muito grande de criminalização prévia sobre as pessoas que estão ocupando a rua”.
Aos 25 anos, Caio garante não ser “cegamente” contra o Mundial. Para ele, o “problema” real é ver a prioridade dos governos diante dos problemas nacionais. “Nós vamos para a rua. Será uma oportunidade exemplar de visibilizar as questões do povo brasileiro”, avisa.
30 bilhões de reais é o total investido na Copa do Mundo 2014. Valor superior ao dos três últimos Mundiais, que consumiram R$ 27 bi

47% É o percentual de fortalezenses que se dizem “interessados” e “muito interessados” na Copa do Mundo. A Capital ocupa o primeiro lugar no ranking 

Nenhum comentário:

Postar um comentário